Quando pensamos no contexto escolar, é frequente palavras como "Positiva", "Negativa", "Bom", "Muito bom", surgirem como pano de fundo da nossa reflexão. Será que nos é assim tão difícil compreender o processo de aprendizagem como algo mais do que notas?
Desde muito pequenos, encontramos na escola uma valorização pessoal, um reforço imediato e a confirmação de que somos bons a algo em particular. 
Neste contexto, procuramos habitualmente a regra, o cumprimento da rotina, o planeamento e a autonomia, mas serão estes os conceitos base que transmitimos? Ou sem querer, acabamos por pautar o contexto escolar de ansiedade, sentimento de fracasso, exigência e dificuldade?
A escola é o contexto onde as nossas crianças passam a maior parte do seu tempo e onde desenvolvem as noções básicas da sua personalidade, assim como as suas crenças acerca deles, do mundo e dos outros.
Atualmente vivemos numa sociedade onde o que é expectável, é aquilo que é palpável, temos a necessidade de que o mundo ao nosso redor possa ser medido ou traduzido em valores específicos. No contexto escolar, o mesmo se verifica, visto que os alunos acreditam que tirar boas notas representa sucesso escolar e que a ausência destas, mesmo com um papel ativo e o esforço constante, significa que realmente não podem ser considerados bons alunos.
A noção base parece fazer-nos sentido e estar correta, quando conseguimos melhores notas estamos realmente mais próximos de atingir os nossos objetivos e meta. Mas será realmente esta a chave do processo de aprendizagem? Aprender os diferentes conteúdos, transitar de forma segura e com os conhecimentos base para a assimilação e consolidação de nova informação, representam, sem dúvida, a plataforma para um percurso mais sólido.
É habitual ouvirmos crianças ansiosas com as notas e, de forma não intencional, continuamos a incentivá-los para os tão almejados "Muito bons", sem compreendermos a pressão a que estão expostos, as implicações na autoestima e no quotidiano da própria criança.
No contexto clínico, chegam-nos por vezes meninos presos entre o que sentem que deveriam fazer, as expectativas dos pais e a manutenção de um papel ou postura correta perante os professores e o contexto escolar. Centramo-nos habitualmente nos casos em que os meninos não têm boas notas, experienciam dificuldades na organização e no ultrapassar de determinadas matérias e conteúdos em particular.
Falamos frequentemente da focalização nos resultados, no ter, no obter algo, as crianças funcionam também de forma semelhante, são impulsionadas pela ideia de obter esta ou outra nota, ignorando por vezes a importância do percurso até lá.
É nesta questão que reside a real ansiedade, a procura constante por aqueles que no fundo serão os reforços efetivos e palpáveis do nosso trabalho. A ansiedade é justificada durante todo o percurso, uma vez que são efetivamente as notas que definem se os alunos passam ou não, se entram em boas escolas e em ultima análise, se podem escolher o curso com o qual realmente se identificam.
A existência desta organização no nosso ensino ajuda todas as crianças a crescerem com a crença de que o seu sucesso pode ser definido por um número, atribuem frequentemente sucesso a um número mais elevado, choram e lutam para que esse número, esse momento isolado de avaliação traduz o esforço e todo o investimento para aquela disciplina. Esta é sim uma questão difícil: Como proteger as crianças da pressão exercida para ter boas notas? Como protegê-los da ideia de que são a nota que recebem?
De forma global, a proteção em primeira instância, vem do contexto em que se sentem mais seguros (habitualmente o contexto familiar), onde partilham os seus medos, onde procuram a aprovação e a importância dada ao seu esforço, em detrimento de uma nota mais alta.
No contexto familiar, dito espaço seguro onde os medos são expressos com menores barreiras, podemos ajudar as crianças a acreditar no seu potencial e a afastar a ideia de que realmente eles são as notas que obtêm. Reforçar o esforço, o processo, a organização e o investimento da criança, mesmo naquelas disciplinas onde as notas não foram o que esperavam, mas onde foi visível o empenho. 
Fator determinante é também a forma como os ajudamos a lidar com os momentos menos positivos, com os ditos momentos em que sentem fracassar e em que se esforçam e não conseguem atingir aquilo a que se propõem. É nestes momentos, que o aparentemente implícito, se torna essencial de verbalizar, ouvir um "estamos muito orgulhosos", "sabemos que te esforçaste muito e por isso estamos felizes contigo" é não só essencial, como, me atrevo a dizer, define a forma como a criança vai ser e sentir o seu próprio percurso.
Quando não corre bem, é importante capacitar a criança de que poderá tentar novamente, que poderá também compreender o que correu menos bem, definir novos objetivos e analisar o que gostaria de melhorar. A perspetiva de que acreditamos que irá conseguir, ajuda também no afastamento da ideia inicial de que esta nota a define, contribuindo para que se sinta motivada para melhorar, independentemente da nota.
É também importante compreender, que esta pressão não se encontra circunscrita ao contexto familiar, sendo também espelhada no dia-a-dia do contexto escolar das nossas crianças.
Falamos então desde cedo às crianças do que necessitam para serem bons alunos e do quanto serão reforçados por tal. No contexto escolar, é frequente assistirmos a um maior investimento naqueles que correspondem com notas mais elevadas: os bons alunos são os que conseguem que a sua "inteligência" se traduza em resultados numéricos.
É importante compreender que o desenvolvimento, assim como a aprendizagem, não se dá sempre da mesma forma ou ao mesmo ritmo, para todas as crianças.
Aprender é mais do que ter boas notas, é mais do que a pressão (por vezes implícita por vezes explicita) de que necessitamos de corresponder a determinados padrões. Aprender é crescer construindo o nosso percurso e retirando dele o máximo possível para que todas as peças nos ajudem a chegar um passo mais perto do que pretendemos ser e do que um dia gostaríamos de fazer.
Aprender é aceitar, com toda a pressão presente, que somos mais do que as notas que obtemos e que nos devemos orgulhar do percurso singular que todos os anos traçamos.