A tarefa de parental já em si mesmo não é fácil! Sendo idealmente mais facilitada quando existe uma partilha de responsabilidades e apoio mútuo no que à educação dos filhos diz respeito.
Quando se trata de se ser pai solteiro, a tarefa fica ainda mais dificultada, visto que tem de enfrentar todas as dificuldades sozinho desempenhando o papel de ser pai e mãe ao mesmo tempo.

A nossa sociedade caracteriza um papel de pai bastante definido, sendo este o responsável por prover e proporcionar aos filhos uma vida boa ao nível da educação e dos bens essenciais para um crescimento saudável. O pai estava mais associado à disciplina e menos ao afecto, imagem que hoje, felizmente, está a mudar. 
Esta responsabilidade parental, quando se é pai solteiro, aumenta tendo de ser encarada com muita força de vontade e dedicação. Criar um filho não é fácil, é uma tarefa complexa, permanente e desgastante pois é importante não só estar presente mas também saber lidar com o crescimento intelectual, social e emocional da criança.
Para além disso, é importante não esquecer que para além de ser pai, é na mesma homem com uma vida profissional e emocional presente, que fica por vezes para trás, pelas exigências parentais. O crescimento profissional, culturalmente até mais no homem, é um objectivo que roça quase a obrigação! Quando se tem fazer opções e eventualmente abdicar da progressão da carreira profissional em prol dos filhos, pela necessária dedicação intensa e constante, pode levar a um sentimento de frustração e inferioridade na condição de homem, responsável por garantir os bens essenciais à sua criança! Estas dúvidas e anseios, o gerir as festas da escola, as idas às consultas… a pressão social pode tornar-se por vezes desgastante, frustrante e incapacitante.
Diversas emoções são despoletadas no pai: ansiedade, depressão, irritabilidade, preocupação, etc. A gestão destas emoções é por vezes complicada, tendo um impacto directo na criança. É fundamental não descurar do cuidar da criança emocionalmente, falar sobre os sentimentos e dar um forte apoio na construção d personalidade e emocional da criança, de modo a que este se torne um adolescente com uma auto-estima sólida e uma personalidade com raízes estáveis.
Ser se pai solteiro implica uma dedicação 365 dias por ano, havendo pouco tempo para descanso. Ao chegar ao período de férias, o estar 24h por dia com a criança pode ser alvo de conflito visto que ambos têm necessidades por satisfazer, onde não existe por vezes espaço para que se consiga dar resposta a ambos. Nestas alturas, a criança irá precisar de atenção, de suporte, de diversão… enquanto o pai precisaria de descanso e de recuperar energias, restabelecer o próprio equilíbrio.

As questões emocionais, os afectos, são uma base importante na estabilidade e no crescimento saudável. Como referido, quando se é pai solteiro, o impacto desta relação reflecte-se tanto no adulto como na criança. 
Quando existem os dois pais presentes, para além do apoio mútuo que dão um ao outro, é possível intercalarem de forma a conseguirem ter tempos individuais. 
Mas não devemos desanimar! Ser-se pai é fantástico e o poder contribuir para o crescer de uma criança modelando as suas aprendizagens e forma de ser, enchendo-o de carinho e ajudando-o a descobrir-se a si próprio é uma vivência única e enriquecedora.
No auxilio do pai solteiro, é fundamental recorrer nestas alturas à rede de suporte, sejam eles amigos ou família! Os avós podem ser uma grande ajuda para se conseguir momentos de descanso para o pai.
Embora o pai seja solteiro, a rede familiar é fundamental, por exemplo, o papel da mãe se ainda for viva. Embora a responsabilidade seja muita, quando se consegue uma educação partilhada, embora o papel se mantenha redobrado, é possível que o outro lado também dê a estabilidade necessária.
Nesta situação, é importante realçar a necessidade de uma partilha de ideais e uma cumplicidade parental entre ambos os pais. Apesar de não serem um casal, têm alguém em comum. A criança precisa de sentir firmeza, rotinas, regras, afecto, de forma a conseguir manter o equilíbrio. Quando isto não acontece, é fácil entrar num jogo de chantagem e irrequietude, onde a criança se sente insegura e perdida, acabando por apenas usar as relações parentais para fins, em vez de as utilizar para se preencher a si mesmo!
Outro aspecto importante prende-se com a forma como o pai encara o estar com o filho. Se estes tempos forem vividos com intensidade e entrega, sem ressentimentos ou receios, é possível encontrarem os dois, pai e filho, tempos de lazer e momentos únicos, promotores de uma relação forte, estável e sólida.
Para além disto, o procurar envolver a criança na sua vida pessoal, na sua rede social, na história familiar, nos rituais familiares, é uma estratégia excelente para partilhar indirectamente esta responsabilidade de ser pai solteiro! 

A criança, ao estar rodeada de crianças e adultos que se preocupam com ela, vai desenvolver competências sociais e emocionais que lhe vão ajudar em se tornarem jovens adultos competentes!
Ser-se pai solteiro não é uma vergonha nem deve ser visto como uma incompetência inesperada do progenitor masculino. Os preconceitos da sociedade devem ser ultrapassados, pois ser pai ou mãe solteiros é e será sempre difícil. Cabe-nos a nós como pais e mães solteiros, ou a nós como rede de suporte, aprender a cuidar e a apoiar as díades mais desamparadas, e tal como se fosse uma grande família promover a integração e crescimento da criança, do pai, e de ambos individualmente e em relação filio-parental.
Ao ser pai solteiro, a tarefa de educar e disciplinar sem afectividade torna-se precária, sendo obrigatório uma função mais afectiva de forma a equilibrar o lado materno. Geralmente, cabe à figura parental materna o cuidar mais carinhoso, o dar mimo, o fazer mais as vontades, o demonstrar afectos (um abraço, um beijo), ou seja, todos os rituais familiares que estão ligados ao sentimento. 
Esta ideia não significa que os pais não sintam o mesmo que as mães, ou que não sejam de igual forma carinhosos. O que acontece é que, pela própria natureza do ser humano, o homem tende a ser mais distante no que concerne a demonstração emocional, e a mulher, por contrário, tem grande facilidade em envolver-se emocionalmente e em demonstrar esse afecto. Desta forma, quando o pai investe na rede social de apoio da família, pode recorrer a figuras femininas existentes de modo a conseguir colmatar este lado emocional e a encontrar o equilíbrio necessário na educação do filho.

Ser pai solteiro é assim uma entrega diária acrescida, que pode levar a que este se esqueça de si próprio, da sua pessoa e das suas necessidades. Quebrar esta corrente abafadora da essência de cada homem é fundamental para que a própria criança cresça com um modelo e uma figura de referência segura, estável e catalisadora de um crescimento saudável. 

Carla Dias da Costa
Psicóloga Clínica