Estímulos para o poder do cérebro ou danos para a mente? Será que os videojogos proporcionam às crianças a agressividade ou será que treinam capacidades de atenção vitais? Ou será que ambas as situações?

 

Para distinguir os benefícios dos malefícios, a prestigiada “Revista Nature”, com a ajuda de especialistas, defende que tudo depende do tempo que se utiliza nos videojogos e do tipo de videojogo, ou seja, se fizermos uma comparação com a alimentação mais adequada a ter, diríamos que existem alimentos mais nutritivos e outros que em excesso podem ser prejudiciais à saúde.

 

Jogos com corridas de automóveis de alta velocidade e jogos de batalhas e de disparos constantes revelam aumento da atenção visual, velocidade do processamento de informação e a mudança rápida de uma tarefa mental para outra. Foi verificado que vários jogos podem melhorar a acuidade visual e a perceção espacial, a mudança da atenção, a tomada de decisão e a capacidade de seguir objetos.

Mudanças cerebrais mais positivas podem ser obtidas através de jogos que ofereçam desafios cognitivos progressivamente mais difíceis, que exijam uma atenção completamente focada, o que leva a períodos de memória de trabalho cada vez maiores.

Segundo Douglas Gentile, Cientista Cognitivo no Media Research Lab, na Universidade de Iowa, quando temos de percorrer o ecrã para detetar pequenas diferenças e depois orientar a ação para essa área, melhoramos a capacidades de atenção, no entanto, acrescenta que estas capacidades não são transportadas com facilidade para outros contextos, ou seja, jogos com ritmos muito acelerados podem habituar algumas crianças a níveis de estimulação exagerados.

Embora os videojogos possam fortalecer a capacidade de atenção, pouco ajudam na capacidade para a aprendizagem, como o ter atenção nas aulas e compreender o que se lê e como essa aprendizagem se interliga com o que se aprendeu na semana passada ou no ano anterior.

 

Segundo autores como Craig A. Anderson, (2004) e John L. Sherry (2007), existe uma correlação negativa direta entre as horas que uma criança passa a jogar e o seu desempenho na escola, a dar início pelo tempo que a criança perde sem estudar. Um estudo efetuado em Singapura a 3034 crianças e adolescentes, acompanhados durante dois anos, concluiu que as crianças que jogam em excesso mostram aumento de ansiedade, depressão, fobia social e queda de resultados escolares. Quando essas crianças interrompiam o hábito de jogo, as situações diminuíam. O facto de as crianças estarem muitas horas a jogar faz com que o cérebro fique sintonizado para uma reação rápida e violenta.

Para evitar que as crianças cheguem aos psicólogos depressivas e ansiosas, com tendência a se isolarem e a sofrerem de fobia social, e, mais tarde, terem de ser medicadas para o efeito, é imperativo apostar mais na prevenção e permitir que as crianças se envolvam com as novas tecnologias, de uma forma gradual, ponderada e saudável, sem com isso perderem a noção da realidade.

É muito importante também esclarecer que muito depende da educação adequada ou não que se transmite à criança, visto que, embora os jogos violentos possam levar a criança a uma maior agressividade, os mesmos só por si, não transformam uma criança. É necessário que a educação e os valores transmitidos sejam os mais adequados, logo, cada criança é uma criança, pois cada uma vive uma realidade diferente, ou seja, uma criança vítima de maus tratos, sem uma noção plena do conceito de família, sem uma estrutura sólida do seu EU, pode ficar mais agressiva quando exposta constantemente e por tempo alargado à prática de videojogos, do que uma criança não vítima de maus tratos, com uma noção estruturada do conceito de família e mais segura de si.

Igualmente importante e preocupante são os jogadores violentos mostrarem menos preocupação quando testemunham pessoas a serem violentas a vários níveis, como no caso de intimidação em contexto escolar. Muitas crianças e jovens parecem, cada vez mais, deixar de se importar com o bem estar do outro. Além de estarem focados em si próprios, permitem que a violência e a agressividade ganhem cada vez mais espaço entre si. O Bullying muito falado nos nossos dias, é prova disso mesmo.

Os neurocientistas, em Foco de Daniel Goleman (2013), colocam a seguinte questão: “A longo prazo, o que provocarão estes jogos quanto às suas ligações neuronais e à malha social?”

Interessa acrescentar algumas outras questões: “Será que daqui a uns anos vamos ter as nossas crianças a festejarem os seus aniversários e a festejarem o final do curso através da internet, sem se olharem nos olhos, sem se tocarem e sem interagirem pessoalmente? Será que os videojogos vão conseguir que os nossos jovens deixem de se encontrar e ouvir a voz do outro?

Temos de ser nós, pais, professores e educadores a olhar pelos nossos filhos e alunos e a dar-lhes o necessário “com peso e medida”.

 

 

Inês Tapadas

(Psicóloga Clínica- Clínica da Educação)